Tive um berlinde uma vez, era o berlinde mais bonito que se podia imaginar, podia passar horas a olhar para dentro dele, a voar pelos arco-íris que ocupavam o seu interior, desde o laranja do pôr-do-sol ao azul-escuro característico do céu crepuscular. Sim este berlinde foi em tempos o meu objecto mais precioso, o mais poderoso de toda a rua do Garfo, a forma como ele derrotava os seus inimigos e no entanto conservava a sua majestosidade e brilho.
Todos os meus amigos o cobiçavam, me olhavam com inveja e muitas vezes tive de fugir para te conservar.
A noite, poisava-te dentro da tua caixinha de madeira que pedi ao meu Avô que fizesse de propósito para ti, e deixava-te no parapeito da janela ao pé da minha cama, para que a luz da lua te abençoa-se e pudesses apreciar o ar fresco da noite e a harmonia trazida pela danças das estrelas. Ainda hoje posso jurar, que apesar de saber que dentro de ti não mais que vidro existia e a vida não te preenchia, podia ouvir-te a rir-te docemente para mim enquanto dormia.
Escrevo esta carta e envio-a pelo vento, para que se alguém encontrar este meu amigo de infância, mo possa devolver para que a criança dentro de mim também possa sorrir e mergulhar voando de arco-íris em arco-íris…