domingo, 22 de março de 2009

O meu berlinde Arco-Íris…

Tive um berlinde uma vez, era o berlinde mais bonito que se podia imaginar, podia passar horas a olhar para dentro dele, a voar pelos arco-íris que ocupavam o seu interior, desde o laranja do pôr-do-sol ao azul-escuro característico do céu crepuscular. Sim este berlinde foi em tempos o meu objecto mais precioso, o mais poderoso de toda a rua do Garfo, a forma como ele derrotava os seus inimigos e no entanto conservava a sua majestosidade e brilho.


Todos os meus amigos o cobiçavam, me olhavam com inveja e muitas vezes tive de fugir para te conservar.


A noite, poisava-te dentro da tua caixinha de madeira que pedi ao meu Avô que fizesse de propósito para ti, e deixava-te no parapeito da janela ao pé da minha cama, para que a luz da lua te abençoa-se e pudesses apreciar o ar fresco da noite e a harmonia trazida pela danças das estrelas. Ainda hoje posso jurar, que apesar de saber que dentro de ti não mais que vidro existia e a vida não te preenchia, podia ouvir-te a rir-te docemente para mim enquanto dormia.


Escrevo esta carta e envio-a pelo vento, para que se alguém encontrar este meu amigo de infância, mo possa devolver para que a criança dentro de mim também possa sorrir e mergulhar voando de arco-íris em arco-íris…

segunda-feira, 16 de março de 2009

Untitled 13

Ela tinha três profissões desde que o marido, Pensamento Positivo, faleceu. Vendia cachorros-quentes à hora-de-almoço e ao jantar, fazia serão na loja de conveniência de uma bomba de gasolina e limpava casas nas restantes horas.
Os seus filhos, Justiça e Igualdade assaltavam bancos e drogavam-se na esquina do café do bairro.
A sua pobre mãe, Esperanças Futuras, estava senil e pedia-lhe justificações diariamente sobre os mais ridículos assuntos.

Definitivamente, Paz não estava nos seus dias.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

The Wandering Soul Journal

January 01/2010

Hello! My name is Gregor the first and oldest of my kind, I’m a wandering soul whose job is to travel around the world looking for humans worthy enough to ascend and become guardian angels.

I started a journal for the first time in the thousands of years that I have existed, because I have found a particular subject that intrigues me.

It was when I was flying through the night sky of Aerialis that I spotted him, a human whose kindness could be grasped by the palm of my hand, with curiosity I started analyzing him.

He is the most perfect specimen I have ever found, with all the qualities that would make him the perfect guardian angel.

This boy has never had a good life, his father has been sick since he was 10 and his mother works double shifts at the local groceries store, leaving him to take care of his little sister and sick father along with all the house chores, but still, somehow this boy always has a smile on his face.

On his free time he reads Runaways comic books, Terry Pratchett ´s Thud (which is the only one he can afford), and draws landscapes, while leaving time to work at the local asylum helping homeless people.

Yes he is probably the most kindhearted person I have ever found.

Note: The only time where I see perfect happiness in the boys heart, is when his beside his girlfriend.

Spring 2010

I always loved Spring, despite the fact that I am a soul, the beginning of Spring always cheers me up and turns my color into green, but this year, this year Spring brought me something, I would call it, unfortunate.

My specimen´s girlfriend died, I am afraid that the scar that has been inflicted on this boys heart is to deep, I am scared he will lose the faith he so desperately has in mankind, what makes it all worse, is the fact that his girlfriend was killed by a homeless, the very people that he works so hard to help, envious of the love they had, he raped her and then brutally assassinated her, how will he survive after this? I can only wait and have faith.

Winter 2010

God, I work 24/7 for THEM to have a guardian angel to protect THEM and make THEM happy, doesn´t work, but you say the word “Christmas” or “Hanukah” and everybody is jolly, and happy and full of love, do I hate humans sometimes….I know, I’m a superior being, I shouldn’t have this kind of feelings, but sometimes it really gets to me…, crap, I’m turning gray, better go to work so I can get my mind off of this.

Note: My specimen continues to mourn his girlfriend’s death.

Spring 2010

How good it feels to bath in the sunlight, I’m ashamed of this pink color, but I can´t help it, my specimen has finally woke up of the numbness that had taken over him since the death of his beloved girlfriend, his heart, despite being greatly scarred, is still able to love. All goes well, and it´s Spring, who isn´t happy in Spring.

Winter 2011

I thought this happiness would last, but it didn’t, his father has finally passed away, even though everybody expected it, it came as a shock, tears were shed all over, and a dark cloud has come upon that house, yet again I can only hope that he will manage through the pain.

January 07/2012 – Extra entry

Something strange is happening, I cannot describe it, but I sense something is messing with this boy´s fate, nothing good ever happens to him, always bad, terrible things, I wonder if anyone would have the stupidity to use it….

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O fim trágico da pequena Odete

Um pouco de poeira caiu-lhe em cima da cabeça, Odete olha para cima e vê uma pequena racha a formar-se no tecto. Poisa a navalha com a barata ainda a espernear na mesa, sacode a poeira do cabelo, levanta-se, limpa o seu vestido e começa a andar pela sala de forma a conseguir ver melhor a racha. Esta continua a aumentar até que um tímido raio de luz invade a sala.

Um misto de terror e curiosidade toma conta de Odete, ali a dançar a sua frente, um raio de sol, a única coisa de que tinha sido proibida de alguma vez tocar. Ela pondera durante um ou dois minutos e apesar de todos os avisos do seu Pai, decide aproximar-se.

Estica a sua pequena mão e sente o calor que o raio emana, era agradável, envolvente, e a sua luz de um dourado translúcido era bela, harmoniosa.

Com desejo de sentir mais, Odete tira o seu vestido preto, poisa a borboleta escarlate que adornava o seu cabelo e deixa-se banhar totalmente pela luz.

Um grito lancinante atravessa a casa, o seu Pai acorre a sala, mas era tarde demais, já nada restava de Odete. A sua Mãe finalmente chega, encontra o seu marido de joelhos, a chorar com o vestido numa mão e a borboleta na outra, a repetir constantemente.

“Eu disse-te para nunca te aproximares da luz…”

sábado, 14 de junho de 2008

The grieving soul.

Vi um fantasma virar a esquina, segui-o com curiosidade, ao entrar no beco olhei para a frente e encostada a parede lá estava ela, olhos azuis, cabelo negro, um vestido de noite a cobrir o seu belo corpo. Tentei aproximar-me, “Não te chegues, é perigoso”, comecei a ouvir um zumbido ensurdecedor e a visão a desfocar, fechei os olhos.

“Onde estou?” tudo o que vejo e ouço é um tecto branco e um gemido ao meu lado, apercebo-me que estou num hospital, “Ah, estou a ver que já acordou!”, ao meu lado uma enfermeira idosa, com uma expressão bondosa olhava para mim. “O que me aconteceu?” “ Como vim aqui parar?”, “Você foi deixado a nossa porta desfalecido e mais do que isso não sei”, de repente a imagem daquela rapariga invadiu a minha mente, “Obrigado, agora se não se importa gostava de descansar”, com isto a enfermeira levantou-se e foi embora.

Sai do hospital e fui para casa, pelo caminho pareceu-me ver aquele “fantasma” pelo canto do olho, mas quando olhei não estava lá nada.
Todos os dias quando ia para ao trabalho passava pelo beco e esperava encontra-la lá como naquela noite, mas não passava de esperança.
Os anos passaram, mudei de casa, de emprego, tive algumas relações falhadas, os meus familiares morreram, fiquei sozinho, a única coisa que continuo imutável, que me ajudou a manter a sanidade foi aquele beco e a imagem da rapariga.

Estou no meu leito de morte e todos os meus arrependimentos surgem no seu estado bruto, o que fiz, o que podia ter feito, quem amei e quem podia ter amado, um grande desgosto esburaca o meu coração, para tentar evitar a dor viro a cabeça na almofada e fecho os olhos.
“Não pode ser, é impossível” com toda a esperança perdida abro os olhos e lá estas tu, sentada no parapeito da janela deste velho louco, igual como se para ti todos estes anos não passassem de meros segundos.
“Quem és tu? “Porque só te mostras agora?” “Tanto tempo e ainda não adivinhaste? Julguei-te mais inteligente, afinal não me apaixono por qualquer humano”um sorriso iluminou-lhe a cara. “Já tinha posto a hipótese, mas nunca pensei que fosse verdade. Isto quer dizer que vou morrer finalmente? Escapar de toda a tristeza e monotonia que foi a minha vida” “Não meu amor, significa que finalmente vais viver a tua vida real, a meu lado para sempre”Ela estendeu-me a sua mão, senti o meu corpo a flutuar, pus-me em pé e olhei para o espelho, a cara que este reflectiu não era do velho decrépito deitado numa cama apenas a espera de morrer, mas sim a de um jovem nos seus 20 anos. Caminhei para ela e juntos de mão dada saímos pela janela e caminhamos pelo céu até se ver apenas o rasto nas estrelas deixado pelas nossas pegadas!

“Só mais uma pergunta, porque não me levaste logo naquele dia, porque me fizeste sofrer?”

” Ora meu amor, todos temos de sofrer para descobrir a nossa humanidade….”

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Untitled 3

I was 19 when I made a good friend. She was a demon.
She had a part-time job in a library owned by her father and, occasionally, she'd invite us there.
The library was quite nice. There were a lot of fireplaces and screams from the pits of hell. Our voices echoed in the distant ceiling of the entrance hall, coming back in strange deep tones and sounding more or less like 'BOGOHLAGATH! SHOBOROGOTH!!'
Those were happy days.
But, as these things usually go, she vanished one day, along with the library, without saying anything to anyone. Except to me.
She appeared in my room the night before and said 'I have to go now, John.' My name wasn't John, but she called me like that no matter what. She said it was the first name my mother gave me, before my hip grandmother came and showed her a list of unusual, new-age names.
'Will we ever meet again?' I asked.
'I don't think so, John. I seriously doubt it.'
'Why?'
'You are a good person, John. You help your parents. You will save people. You will give a life of happiness to your wife. And good people, John, usually end up in a completely different place than hell.'
And with that, she climbed my bedroom's window and jumped into the dark.

Well, time went on. I married. My wife couldn't have been happier than I was. We had children, a couple of hyperactive brats. We were even happier than before, if that was possible. We grew old, our children left our house. We moved to a quiet neighbourhood, into a house with no stairs. My children had children. We were so proud.
And then, with 79 years, I died. While I was lying sick on the bed, I muttered, '... as if this tiny cold would kill me,' and passed away, with less-than-dignifying last words.

My friend was right, I didn't end up in hell. I got a small occupation in this new place, installing newcomers and organizing tours. While these peaceful days go by, I wait patiently for the day when my wife comes to me.
And, sometimes, when we have a little free time, I fly to the lowest clouds hanging over Earth and I wait for her, my friend that I met so long ago.
'Hello, John!'
Sometimes, we play cards. Others, she tries to teach me how to play bridge.